
ESPAÇO
LYA
Dedicado à leitura, à obra de escritoras brasileiras e ao memorialismo, o Espaço Lya abriga um acervo de livros que compõem uma verdadeira biblioteca de memórias.
Nas leituras e encontros que haverá neste ambiente, a literatura será tratada como expressão artística transformadora que contribui para a educação, a formação de leitores, o desenvolvimento do pensamento crítico, o intercâmbio cultural e a constituição de um patrimônio para a humanidade.
As autoras brasileiras não se deixaram intimidar pelo longo processo de silenciamento e invisibilidade das mulheres, nem pelas barreiras impostas à sua educação e à sua presença no mundo do trabalho. Apropriando-se de todos os gêneros e temas, nossas escritoras têm feito emergir sua coragem, sua voz e seu protagonismo para reinventar a realidade e gerar um novo estado de coisas.
Na arte da literatura, escritores de obras memorialistas registram eventos e recordações de sua vida pessoal e do momento histórico e social em que viveram. No Brasil, célebres autores se dedicam à narrativa memorialística ou utilizam as próprias vivências como matéria-prima para criar obras de ficção.
"Um livro de memórias precisa ter alma própria. É importante que, ao olhar para trás, você não trate seu passado como uma sequência de eventos isolados, mas que busque entender como cada um deles contribuiu para sua formação, suas escolhas, e os rumos que sua vida tomou."
Pedro Nava


O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos
A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento vaivém nas águas-lembranças
dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Conceição Evaristo
"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro."
Fernando Sabino

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade
Memória
"É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos."
Adélia Prado
"É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos."
Adélia Prado
"Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo."
Adélia Prado


Quero da memória apenas a essência das lembranças.
Cyro dos Anjos
Ad astra
Era uma menina saudável,
de pele morena, corada e aveludada,
às vezes comparada a uma rosa.
Alegre e irrequieta,
andava de bicicleta, patinava
e gostava de correr, correr…
Estaria pressentindo?
Aos nove anos teve poliomielite,
e, sem de todo conseguir vencer a paralisia,
o seu coração partiu-se.
Fez-se moça,
de rosto bonito,
e, com o coração em alvoroço,
para o amor sorriu.
Mas, vendo a sua imagem no espelho,
a perna defeituosa e o andar claudicante,
pressentiu...
Tentou salvar os pedaços de seu coração
sendo ativa e sonhando...
Com o afeto dedicou-se aos seus.
Já na idade madura,
sem pressentir,
vários golpes a atingiram.
Novamente pôs-se a remendar o seu coração.
Na procura dos pedaços
que se espalharam pelo tempo afora,
passado, presente e futuro
passaram a coexistir,
o espaço físico perdeu a importância,
os fatos flutuaram soltos,
sem dimensão.
Nesse novo universo,
compartilhado com os astros,
ela se tornou invulnerável!
Lya Maria Müller Botelho
LYA MARIA MÜLLER BOTELHO
Lya Maria Müller Botelho nasceu em Leopoldina em 20 de abril de 1930, filha de Ormeo Junqueira Botelho e Dora Müller Botelho. Acometida por uma infecção virótica na infância, sempre teve a saúde frágil, o que não a impediu de ser feliz.
Amorosa com os pais, usava a poesia para expressar afetos e sentimentos. Integrou o Conselho Consultivo da Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina e o Conselho de Administração da Companhia Industrial Cataguases, empreendimentos vinculados à sua família.
Faleceu no Rio de Janeiro em 27 de maio de 2003, mas foi sepultada no jazigo da família, em Leopoldina, cidade onde passou grande parte de sua vida.

